Sinto que programo e reprogramo o relógio constantemente. Quase como se estivesse com jet lag, só de viver a minha vida. E o relógio que outrora marcava as horas, num ápice as volta a mostrar, como se o tempo voasse e eu não pudesse comandar. Sinto que tenho tanto para fazer, tanto para viver, mas o tempo não deixa. O relógio não pára, ele continua a andar incessantemente. Começa às 08:00h, quando vem o despertar, a preguiça da cama e o penoso acordar. Apressa-me para não perder o autocarro, como eu gostava que ele abrandasse em tantas alturas para me poder maquilhar. O dia começa, e o relógio comanda, em cada hora da agenda, que se abre, com novos desafios e um dia de trabalho pela frente. Nenhum é igual a outro. É uma prova de fogo diária e constante. A rotina não a vejo aqui, às vezes até a peço, arrependo-me de seguida. Este lado de insegura, vê o seu vislumbre pelo receio e tem o seu término repentino pela minha personalidade. Que se compõe e se refaz. Em cada minuto de cada dia, onde até os segundos contam. E chega o fim do dia. Os receios dão lugar às histórias, onde as inseguranças se derrubaram e eu, fui um segundo mais segura. Não só de mim, mas de quem sou. Sinto que tenho tanto para conhecer, tanto para aprender. Tanto para mudar e perceber. Como se traçasse o meu caminho em cada segundo, e sentisse que essa minúscula fracção de tempo, mudasse tudo. E muda! Um sorriso, um olhar, uma palavra. É quanto leva um segundo. Uma vontade, a de fazer ou desistir. E nesta rotina a que me adapto, em cada segundo do meu dia, o relógio ensina-me a viver. E revela-me em cada segundo que eu não seria a mesma, se não vivesse assim, sem parar!
Depois de um dia de trabalho preenchido e desafiante, que se traduzem num dia daqueles, em que a maquilhagem da manhã já há muito que se tinha ido embora ao chegar ao final do dia, chego à beira do meu namorado que se vira e das primeiras coisas fofinhas que diz quando me vê, é nada mais nada menos do que: "Que olheiras, amor!"
E a meio de uma colecção, se prepara outra. As ideias inovadoras, as peças que surpreendem, o dia do catálogo. 8:00h, ditava o relógio, numa manhã que até para mim começou o trabalho antes da vida profissional, o de amante de moda e curiosa pelo que se faz. A equipa estava a postos, os coordenados preparados, e o entusiasmo era indiscutível. Fiquei surpreendida assim que cheguei, a esta empresa que via mais um grande dia acontecer, e trabalhava numa agitação organizada, de quem sabe que as clientes precisam deles e não devem esperar. E eu sorria ao ver aquela energia. Sei que é das corridas que fazem por gosto, e prazer, de quem não cansa, mas sonha. E sonhou, um dia ter assim, a boutique da tereza. Por entre as colaboradoras, a quem nem a hora madrugadora de mais um dia de trabalho, roubava a disposição matinal. Sabem a sensação de sentir-se em casa, em família?! Esqueçam o estereótipo de empresa, de regras e padrões, ou até formalismos. A minha timidez retraiu-se assim que cheguei a estes bastidores. Com uma stylish que contagia-nos com a sua boa disposição e energia, para não falar de um enorme bom gosto. Uma equipa de produção, extremamente simpáticas e umas modelos que além de lindíssimas, não lhes faltava simpatia e boa disposição. Num ambiente notório de brincadeiras - e até palhaçadas - a empatia faz do trabalho palavra secundária e o bom ambiente esquece os vínculos profissionais do formalismo. E esta a meu ver, é a chave do sucesso. Porque mais do ser bom, é preciso saber sê-lo, e sabem tão bem. Era um novo dia do catálogo, daquele que vai surpreender, de quem tão bem o sabe. De uma boutique da tereza que vai ditar tendências, e mostrar um plus size, na moda, como nunca antes visto.
"... Vivia entre os romances das amigas, pelas quais era fácil apaixonar-se. Os bilhetinhos trocados, os encontros arranjados, os conselhos pedidos. Como uma sombra, ou aquela melhor amiga que todos querem. Gostava em segredo, sem que ninguém soubesse. Contava aos diários, inofensivos. Entregar-se ao amor, era demasiado arriscado..."