A vida tem um jeito particular de nos fazer perceber aquilo que tantas vezes não queremos ver. Que para estarmos bem, precisamos de voltar a aprender a respirar fundo. E, que, para tirar o peso dos ombros, temos de dar leveza às coisas. Na certeza que o que pudemos fazer hoje é mil vezes melhor do que o que se adia para amanhã. E deixar de complicar o que tem solução. Afinal, para andarmos para a frente, não temos de perceber como melhorar, mas sim dar dois passos para trás para pudermos voltar a subir. E não há na vida nada melhor e mais precioso do que o tempo que sabemos aproveitar ao lado de quem amamos. Sem pressão, sem o stress da ansiedade de uma cabeça que não parava, sem a constante necessidade de uma exposição nas redes sociais e sem a validação que sem saber atribuía ao lado profissional que sem eu perceber era no meu intimo quem me definia. Mas somos muito mais do que a mulher profissional, a mulher mãe, a mulher esposa ou namorada e a mulher filha. Antes disso tudo, somos nós, a mulher. Sem filtros, sem floreados e sem pressão. E com o passar dos anos e das fases vamo-nos cobrindo com essas camadas e deixando de nos saber distinguir. E aí entrou a vida. Com um jeito peculiar de nos fazer perceber o que precisámos antes mesmo de nós termos noção disso. E deu-me o tempo que já há muito tempo não tinha. E fez-me ir abaixo e perceber o que precisava de saber para reerguer. E deu-me a maior dadiva que podia ter e que no inicio não queria: tempo. E hoje percebi que foi o melhor que podia ter tido. Não para descansar mas para puder aproveitar. A minha filha, sem a pressa das rotinas do dia-a-dia. A calma de ler um livro. O tempo de me ausentar e reconectar. Dizem que o tempo é um luxo e é tao verdade isso. Hoje digo que o tempo é uma dádiva e não tenho dúvidas disso. E sei que para ser melhor em todas as minhas camadas, da esposa, mãe, filha e profissional preciso de saber cuidar da primeira e principal camada: a minha. A vida é muito mais do que ir atrás do nosso trevo de quatro folhas. É sermos nós o nosso trevo de quatro folhas. Nunca se esqueçam disto. Nunca será sobre o ter, mas sempre sobre o ser, o agradecer, o estar em paz e o ir atrás com os valores certos. E o perceber acima de tudo a verdadeira ordem de prioridades em cada dia. Como uma grande amiga me disse um dia, devemos saber priorizar o que realmente é prioridade, aproveitar o tempo com o que um dia queremos recordar, e saber desfrutar ao maximo do que nos faz feliz. E quando isto um dia nos falhar, então temos de parar, voltar atrás e recomeçar. Tal como eu fiz.
Já alguma vez sentiram que, de repente, a vossa vida deu uma volta de tal forma, como se o universo arranjasse uma forma de vos fazer perceber aquilo que precisavam? Imaginem a pessoa que era incapaz de desligar. Do trabalho, da cabeça a mil, dos mil e um projetos e trabalhos até nas férias de verão nos tempos de escola. Prazer, sou a Angela e sou a pessoa que sempre me intitulei workaholic. Com orgulho e admiraçao. Até que muitos anos depois, uma filha, um casamento e uma casa entretanto e um trabalho que fez-me dar muito de mim, e este foi o ano que fez com que eu percebesse. Que aquilo que eu via como algo que devia ser supostamente um motivo de orgulho e admiração, foi o que fez com que, com o passar dos anos eu não conseguisse desligar. E hoje sinto-me como aquelas figuras publicas que vão num retiro para os himalais ou numa viagem espiritual para a India. Mas em versão dos pobres. Como a mulher que fica em casa com as tarefas domesticas e a gozar os muitos dias de férias mais longos das ultimas decadas. Ferias de verão da escola, sois vocês? Numa versão férias da pascoa de limpar as teias de aranha das portas do jardim e da cabeça. E entre as limpezas, os pensamentos, os encontros e reencontros é quando realmente percebo que há coisas que acontecem por uma razão. No meio para atingir o fim. E na vida que segue. E nos dias que passam para depois se regressar. E sabes o que hoje dei por mim a pensar? Que tudo tem uma razão de ser e de acontecer. Como aquela pessoa que se encontra sem esperar naquele abraço que nos conforta. Como nos projetos que se fazem e nos fazem desejar o futuro que tem a beleza do incerto. Como a promessa da estabilidade nos parece o certo mesmo no meio da incerteza da mudança. E como damos um salto de fé quando nos podíamos acomodar, continuar a acenar e a fingir que está tudo bem, porque simplesmente sabemos que o está para vir será certamente melhor. E o caminho é em frente. Na vida e nos dias.
Há anos que são calmos, monótonos, uma infinidade de dias rotineiros. Depois há outros onde tudo acontece e onde dentro de nós sentimos uma agitação do querer fazer acontecer. E no meio das descobertas pessoais, de perceber o que para nós faz sentido, da vontade - mesmo que com medo! - de mudar, arriscar e ir atrás, está o ser exemplo. De uma mãe de menina que no dia que ela nasceu, nasceu uma nova mulher. Uma mulher que quer ser exemplo para a sua filha. E que hoje sabe que há coisas que acontecem por uma razão que se desconhece mas se reconhece a verdade e a importância. E no meio destes dias, a mãe tem sido a que brinca, a que está presente, a que está a aprender a desligar do caos, da agitação e da imensidão de tarefas a fazer e processos a acompanhar. E lá está há coisas que acontecem por uma razão. E estar presente, ser presente, é a melhor razão de todas. Isso e descobrir o nosso propósito. Como aquele cliché do caminho a seguir que a mim faz tanto sentido. E há alturas que precisámos disto. De desligar, do online e offline. De reconhecer a importância que cuidarmos de nós é uma necessidade. Da nossa imagem e da nossa mente. E é na pausa que nos conectamos, que nos voltamos a conhecer e que descobrimos a nova mulher que hoje somos. E não há nada mais libertador e transformador do que a pausa antes do regresso.